quinta-feira, 23 de junho de 2011

Toque e Estilo da Guitarra Flamenca

Pablo Picasso - Three Musicians

    A guitarra flamenca possui uma característica muito forte de acompanhamento, tanto no baile quanto no cante (canto). Junto com a de concerto, ela constitui as especializações do músico especializado nesse estilo.

Guitarra Flamenca acompanhamento ao cante (canto)


    Especializar-se nesse estilo requer, antes de tudo, apreciar o cante flamenco, conhecer os diversos estilos e, acima de tudo, respeitá-lo. Acompanhar o cantor é saber valorizá-lo, auxiliá-lo e, também, facilitar o entendimento do ouvinte em relação ao cante executado. Entre os principais guitarristas desse acompanhamento temos: Jose Luis Postigo, Paco Cepero, Moraito Chico, Pepe Habichuela e Enrique de Melchior.

Guitarra Flamenca acompanhamento ao baile


    Nessa modalidade é fundamental que o guitarrista conheça os elementos usados nas montagens coreográficas e também tem que conhecer a nomenclatura usada pelos bailarinos, afora saber os “paseos” (movimentos) e sapateados típicos. Para especializar-se é necessário acompanhar as aulas de dança para se familiarizar com o compasso e, assim, desenvolver os rasgueos. Outro detalhe importante é distinguir os cantes típicos de baile. Entre os principais guitarristas desse estilo temos: Ramon Jimenez, Jesus del Rosário, El Viejin, Montoyta e Paco Jarana.

Guitarra flamenca de concerto


    Esse estilo se assemelha ao violão clássico e popular. São necessárias várias horas de estudo para apurar a técnica e, assim, se especializar. Desse modo, o guitarrista fica preparado para executar um repertório solo, pode ser interpretações ou composições próprias. O conhecimento básico do acompanhamento de cante e baile também facilita o entendimento da pronuncia do gênero.
    Entre os principais guitarristas de concerto temos: Paco de Lucia, Vicente Amigo, Gerardo Nunes, Tomatito, Manolo Sanlucar, Ramon Montoya, Sabicas, Nino Ricardo e entre outros.
    Nos ultimos anos, essas especializações se fundiram bastante. É comum ver guitarristas de baile com técnica apurada de concerto (Jesus del Rosário e Antón Jimenez), concertista conhecer muito o cante flamenco (Gerado Nuñez e Vicente Amigo) ou guitarrista de cante realizar shows e gravar discos-solos (Moraito Chico). Por fim, até mesmo um fabuloso acompanhador de cante pode tornar-se um exímio concertista, como Tomatito.

Fonte de pesquisa:
www.titogonzales.com.br
www.youtube.com

terça-feira, 7 de junho de 2011

O violão de João Gilberto

Pintura da Artista Plástica: Isabela Francisco - Bossa Nova

     A Música Popular Brasileira tem estrutura homofônica, ou seja, melodia com acompanhamento de acordes, razão pela qual se torna fundamental o aprendizado de algum instrumento de harmonia, para reproduzir e combinar sons simultâneos. O piano, sem dúvida, tem primazia sobre todos eles. Feito com 5 mil peças individuais e recursos para tocar todos os sons musicais em freqüências assimiláveis pelo ouvido humano.
     Porém, todas essas vantagens se esbarram em algumas questões de ordem prática, tais como: Aquisição do instrumento (preço), manutenção do equipamento, afinação e, o mais complicado: mobilidade limitada. Com a verticalização do teclado - sanfona, acordeom, etc., e o teclado eletrônico - parte do problema foi solucionado. O que seria nossa música sem Luiz Gonzaga e o que seria dele sem a sanfona.
     No entanto, o desenvolvimento da homofonia no Brasil e a popularização dos acordes dissonantes em nosso cancioneiro, estão mais ligados à história recente do violão redimensionado por João Gilberto, do que a qualquer outro instrumento de harmonia, ou mesmo, ao estudo proposto por nossas instituições formais de ensino. Quem possui formação acadêmica, admite: "Esse tipo de harmonia dissonante, utilizada por João Gilberto, só se aprende em edições americanas, Songbooks, revistas, etc., as escolas só ensinam música clássica, e por partitura". Grandes nomes da nossa música, também declaram: "Aprendi a lidar com acordes dissonantes, por ouvido, e João Gilberto é a minha principal referência".
     Na realidade, os acordes dissonantes utilizados por João Gilberto têm sua origem na música contrapontística da polifonia renascentista, como conseqüência da valorização de apojaturas, antecipações, retardos, notas de passagem, etc., sendo que o tratamento horizontal das vozes, ou seja, o contraponto foi se transformando, gradativamente, em harmonia.
     Não existe diferença entre as leis tonais da música clássica européia, e da música popular brasileira. Clássico é o que atinge a perfeição de um momento humano e o universaliza. O que não deve ser confundido com o período clássico da História da Música. (Renascença, Barroco, Classicismo, Romantismo, Impressionismo, Expressionismo).
    Existe sim, um processo natural de evolução em que formações consonantes integraram elementos dissonantes (apojaturas, antecipações, etc.,) formando-se assim, complexos sonoros independentes, ou seja, acordes dissonantes, que constituem uma das principais características da nova escola de violão brasileiro criada por João Gilberto, reconhecida mundialmente.
     O que difere entre a harmonia de música "clássica e popular" são o sistema de notação musical de acordes e a sinalização analítica, decorrentes de estilo de época e contexto cultural. As funções harmônicas dos acordes são as mesmas, ou seja, tudo gira em torno da correspondência entre os domínios de duas variáveis: tensão e relaxamento. Em uma cadência harmônica todo acorde tem função de tencionar ou relaxar, com maior ou menor intensidade, o que induz a sensações de movimento e repouso, respectivamente.

Redimensionamento do violão brasileiro

     Até o final de década de 1950, o violão, como instrumento de harmonia, era utilizado como parte da orquestração de um conjunto denominado regional. Este conjunto apresenta funções bastante específicas para cada instrumento, de acordo com o seu respectivo registro sonoro. Constituído de cavaquinho ou bandolim, no registro agudo; de violão, no registro médio; violão de sete cordas ou contrabaixo, no registro grave; e de pandeiro na seção rítmica.
     João Gilberto, além de redimensionar todas as funções do regional no registro médio do violão, atribuindo acordes específicos para cada registro, mantém, também, o impulso rítmico constante da unidade de tempo do compasso binário, tão essencial à nossa expressão musical, assim como, a altura ou o timbre. Além disso, dimensiona, esteticamente, padrões rítmicos utilizados em conjunção com a melodia e harmonia mostrando que o valor expressivo de um acorde depende da combinação entre função harmônica, altura, timbre, e movimento (balanço).
     A batida da bossa nova criada por João Gilberto – condução rítmica dos acordes do acompanhamento – que tem origem no samba, maior expressão da nossa música, não é uma só, mas sim, uma combinação de diversas células rítmicas dimensionadas esteticamente entre si, e todas, com o fraseado melódico. João faz um jogo de cena entre voz e violão dentro de um conceito mais amplo de harmonia, como teoria da concatenação de acordes, que surgiu para substituir o horizontalismo do contraponto.
     Portanto, a transmissão de conhecimento sobre o violão de João Gilberto não deve ser limitada ao mesmo tipo de notação utilizada nas edições de música popular: melodia cifra, e desenho dos acordes. Não é suficiente. Deve constar, também, a escrita da condução rítmica dos acordes do acompanhamento (balanço). O movimento do acorde é tão importante quanto o seu valor funcional e sua estrutura vertical.

Origem da concepção harmônica de João Gilberto

     A organização dos sons musicais, na cultura ocidental, se baseia em dois grandes sistemas: modal e tonal. Outros tipos de sistemas como atonal, dodecafônico, serial, microtonal, etc., são praticamente restritos a um seguimento da musica erudita.

     Em fins do século XVII e em princípios do século XVIII o sistema modal, composto de sete modos, é substituído pelo tonal de maior e menor, surgindo assim, a harmonia diatônica, baseada em funções principais e secundárias e no princípio tonal da cadência.
     Muitos anos mais tarde com a evolução da harmonia em busca de meios mais expressivos e uma graduação mais refinada dos matizes, foram inseridos acordes de graus modais, ao sistema tonal - funções auxiliares ou acordes de empréstimo modal - ampliando, desse modo, o conceito de tonalidade, onde o contraste de sistemas se torna característica marcante do período impressionista francês com a música de Debussy, Satie, Ravel, entre outros.
     O fato de Salvador-Bahia ser a primeira capital do Brasil, e Pernambuco, onde as Capitanias Hereditárias prosperaram, justifica a sobrevivência do modalismo no nordeste do brasileiro em sua forma original, tornando mais presente a assimilação do contraste de sistemas (Modal e Tonal) em nossa música.
     Por isso, o conceito harmônico de João Gilberto, além de respaldado por um alto grau de refinamento estético, realça características modais, mesmo em melodias de diferentes períodos e regiões. Sua obra não se atém a estilo de época. Em João conta mais como ele toca, e não o que ele toca - valendo a ressalva que o repertório escolhido por ele é de altíssima qualidade, impulsionando o resgate de clássicos do cancioneiro popular de épocas passadas, como também, a divulgação de novas criações. Miles Davis sintetizou: "Ele pode até ler jornal que soa bem."
     Outro fato relevante que, provavelmente, nos aproximou da música impressionista é o modelo literário com referências francesas, importado pelo Brasil desde a independência até o fim do século XIX. Durante o período colonial essas referências eram portuguesas.
     Quinci Jones, mito do Jazz, afirmou recentemente que a música americana, assim como, a brasileira, tem forte influência do impressionismo francês, sendo que, segundo ele, a música popular brasileira é mais erudita.

Fonte:
Estadão.com.br/cultura
Aderbal Duarte

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Rítmos Brasileiros = Frevo e Marcha-Rancho


     
"Frevo" de Candido Portinario
      Na última década do século XIX e na primeira do século XX, aparece em Recife, no estado de Pernambuco, um ritmo, vindo da marcha e do maxixe, de andamento rápido e que se tornaria característico das festas de carnaval deste estado. Ao mesmo tempo, no Rio de Janeiro, começam a surgir as marchinhas carnavalescas, que possuem características semelhantes ao ritmo nordestino, surgem: o Frevo e a Marcha-Rancho.
      A principal diferença entre os dois ritmos é marcada pelo andamento, visto que o frevo apresenta andamento muito rápido. Devido às suas origens os ritmos apresentam instrumentações diferentes, apesar de poderem ser executados por diversas formações. O frevo vem da tradição das bandas militares e, portanto, tem como formação comum grupos com instrumentos de sopro (saxofones, trompetes, trombones, clarinetes, flautas e flautins) e instrumentos de percussão utilizados na marcha (bumbo, caixa e prato). A marcha-rancho possui também essa tradição militar, mas também tem como formação tradicional grupos relacionados ao samba, com instrumentos como cavaquinho, violão, bandolim, além de percussões como pandeiro, caixa e surdo.


O ritmo básico tanto do Frevo quanto da Marcha-Rancho é o mesmo, marcado pela figura abaixo:

Porém, as interpretações se distinguem por ter articulações diferentes, além do andamento, e podem ser transcritos assim:

Frevo: 


Marcha-Rancho:


Variação:


Repertório Sugerido: (para praticar)

Frevo:

        Atrás do Trio Elétrico (Caetano Veloso)
         Frevo Diabo (Edu Lobo)
         Frevo Rasgado (Gilberto Gil/ Bruno Ferreira)
 
Marcha-Rancho:

         A Banda (Chico Buarque)
         Marcha de Quarta-feira de Cinzas (Vinícius de Moraes/Carlos Lyra)
         As Pastorinhas (Noel Rosa/Braguinha)
         Noite dos Mascarados (Chico Buarque)

Fonte:
rafaelthomaz.wordpress.com